Je suis Janaína Riva

De onde menos se espera…é que não sai nada mesmo. Dizem os que gostam de fazer galhofa com os ditos populares.

A deputada Janaína Riva quer desconstruir a desconstrução do ditado.

Por ser muito jovem e filha do multiprocessado José Riva, era voz corrente em parte da população que “deste mato não sai coelho” ou que “filho de peixe peixinho é”. Daí que a maioria dos cuiabanos não esperava muito da nova legisladora.

Os ateus, temos a mania de ficar citando a bíblia: na passagem da chamada dos 12 discípulos, um deles, sabendo que Jesus veio de Nazaré na Galileia, perguntou: Pode haver coisa boa vinda de Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê. (João 1,40-46).

É, parece que de “Nazaré” veio algo bom: A primeira lei a ser proposta pela debutante na Assembleia Legislativa será, como ela mesmo afirma, a proibição do uso de carros oficiais por servidores públicos de qualquer esfera.

Que começo extraordinário! Não há nenhuma dúvida de que o povo, menos, claro, os garbosos beneficiários das reluzentes viaturas, apoia essa iniciativa.

Além da grande economia na aquisição, manutenção e no consumo dos carros dos servidores, evita-se um importante gasto com contratação de motoristas e, principalmente, cauteriza-se uma veia sempre aberta para os constantes desvios de recursos. É notório o esquema de órgãos públicos com postos de gasolina e distribuidores de combustíveis.

Ela por certo vai apresentar um estudo indicando o tamanho da economia, caso o projeto de lei seja aprovado e quantas pessoas humildes, que nem sonham em ter um carro, seriam beneficiadas.

Não vejo nenhuma necessidade de alimentar a vaidade dos ocupantes do primeiro escalão, dando-lhes carros com placas especiais e motoristas de terno e gravata.

Por que eles precisam de tanta pompa para exercer o cargo que ocupam? Qualquer um pode muito bem dirigir o próprio carro, como fazia antes de ser “autoridade”.

Já não bastam os gabinetes luxuosos, caros tapetes e cadeiras de alto espaldar para massagear-lhes e ego e confirmar a importância?

Aliás, está posta aí uma excelente ocasião dos novos secretários do governo, tidos e havidos como diferentes dos que antes ocuparam esses cargos, darem um exemplo, dispensando os carros oficiais e motoristas engravatados.

Não precisam ter medo de apoiar a ideia da deputada de oposição. De boas iniciativas não se questiona a origem.

Creio que somente o governador, o presidente do TJ e o presidente da Assembleia, pela complicada liturgia que o cargo impõe, precisam de carros com motoristas.

Os demais, que até ontem, não tinham nenhuma dificuldade de dirigir seus automóveis, por certo poderão continuar a fazê-lo sem nenhum esforço extra.

Nosso Estado passa por uma modificação política encabeçada pelo governador e seus secretários, que pode tornar-se um “case” nacional. Se a Assembleia fizer sua parte na mesma direção, aí a coisa fica mais fácil.

Que tal, senhores servidores privilegiados, entregarem seus carros por livre decisão, antes que uma lei, proposta por uma “garota inexperiente”, os obrigue a fazê-lo?

Por enquanto, “Je suis Janaína”

 

Por: RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá.

renato@hotelgranodara.com.br

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