"Não tenho medo de suceder ao meu pai"

Bonita, inteligente, bacharel em Direito, mãe da Sophia e do José e filha do deputado estadual José Geraldo Riva (PSD), o parlamentar campeão de votos por várias eleições seguidas ao longo de 20 anos de Assembleia Legislativa. Essa é carta de apresentação da mais nova deputada estadual Janaina Riva, de 25 anos, eleita como o segundo parlamentar mais votado nas eleições deste ano, com 48.171 votos. Companheira do pai e em contato constante com prefeitos e vereadores, Janaina narra em uma entrevista inédita os bastidores da vida em família, as viagens pelo interior, a dramática candidatura do pai, este ano, ao governo do Estado e o desafio duplo: ser atualmente a única mulher na Casa de Leis e sucessora do império político do pai.

Única – Quais as suas expectativas para 2015, e qual será sua linha de atuação na Assembleia Legislativa?

Janaina Riva – Eu sempre disse que preciso partir do municipalismo, porque foi esse discurso que me fez chegar onde cheguei, de continuidade ao trabalho que meu pai fazia, e esse municipalismo é feito para as minorias, o que incluiria as mulheres que na sociedade não são minorias, mas no parlamento são, também priorizarei questões relacionadas à saúde e educação. Quando falo em saúde não digo só do remédio ou exame, e sim analisar seu povo pela prática de atividade física, academias ao ar livre, não entrar nas drogas. Se começar a trabalhar as crianças que entram na escola aos cinco anos, não teremos o custo tão alto de tratar o dependente químico. Se pensarmos de forma preventiva, o governo terá muito menos gasto. Quero fazer um planejamento do Estado, hoje pode até haver crítica, mas daqui a 10 ou 12 anos haverá uma juventude com condições de disputar o Enem em igualdade com os outros estados.

Única – Você vem acompanhando a atuação do novo governador que já gerou algumas polêmicas, como extinção de secretarias, qual sua opinião a respeito?

Janaina Riva – Claro, tenho acompanhado e acho que são condizentes com o que ele disse durante a campanha. O governador Pedro Taques precisa realmente fazer as mudanças que as pessoas exigiram e não há como isso ser feito sem esse enxugamento, uma das coisas que eu concordo, como ele fará eu já não sei, será da parte de quem tem os dados, quanto o Estado arrecada e gasta. Nós, deputados, não temos como interferir, só a partir do ano que vem, quando essas mudanças forem implantadas é que poderemos avaliar se foram boas, se poderia ser feito diferente. Nós precisamos dar esse tempo a ele para que ele consiga trabalhar. Não podemos criar empecilhos, porque ele foi eleito governador, então, temos que dar suporte para poder fazer e daqui a algum tempo avaliar se foi bom ou ruim. Enxugamento significa demissões, claro que isso dói. Mas quem sabe não é uma oportunidade para realmente fazer uma revolução no Estado? Ele precisa desse tempo e também tomar algumas atitudes duras, Mato Grosso hoje está amarrado, não consegue mais crescer como acontecia anos atrás.

Única – Além de enfrentar uma disputa à Assembleia, você vivenciou junto com a família a campanha do seu pai e depois da sua mãe ao governo do Estado, o que aprendeu com a experiência?

Janaina Riva – Desde o início sempre defendi que o meu pai saísse como candidato, porque ele precisava ter a oportunidade de mostrar às pessoas um pouco do trabalho dele, a pessoa dele de verdade, tenho certeza que ele saiu desta eleição muito maior do que quando entrou, as críticas sempre existiram, mas nunca tínhamos tido a oportunidade de respondê-las. Então foi isso que achei importante, mesmo quando estava naquele momento de indecisão, eu sentia que ele gostaria de mostrar ao Estado inteiro quem era o Riva de verdade, que ele havia ajudado muito milhares de pessoas, e esse outro lado dele ficou conhecido nos seus programas eleitorais, assim como a forma arrojada que ele trabalha. Meu pai sempre foi um pé de boi, de acordar 4 horas da madrugada e ir dormir depois das 10 horas de noite, trabalhando direto, acessível para todos, foi esse Riva que muitas pessoas passaram a conhecer. Também acho que se ele continuasse como candidato certamente a votação seria mais expressiva, tanto que o crescimento dele nos primeiros 10 dias surpreendeu a todos, mas isso foi reflexo da força que ele representa no interior. As críticas? Nós ouviríamos de todo jeito! Mas como candidato ao governo ele pode ter um programa eleitoral só dele, pode comparecer aos debates, então, para mim, como filha, me senti feliz de ver meu pai mostrando um pouco de quem ele é de verdade, coisas que eu vejo todos os dias e as pessoas não sabem. Outra lição é que não preciso ofender a honra nem do governador Pedro Taques, nem dos meus colegas deputados, para colocar meu ponto de vista. Eu não gosto desse clima acirrado dos ânimos, não precisa disso, a questão é desempenhar bem o nosso papel, meu pai é exemplo nesse ponto. Se ele tivesse se candidatado como deputado teria obtido a vaga novamente como o mais votado, no seu sexto mandato.

Única – Quando surgiu a ideia da sua candidatura, já estava se planejando há quanto tempo?

Janaina Riva – Eu me preparei por um longo período porque eu sabia que uma hora chegaria minha vez de ser candidata. E seria uma sucessão natural dentro do grupo por ser a única na família a despertar esse interesse. Minha mãe, por exemplo, nunca teve vontade de disputar uma eleição. Disputou porque foi uma consequência depois do indeferimento do meu pai. E nós consideramos que ela seria a melhor opção, mas ela nunca teve essa vontade. Meus irmãos da mesma forma nunca tiveram vontade de se lançarem candidatos. Então, assim, desde o curso de Direito, eu focava num futuro político. O trabalho ao lado do meu pai, que eu me esforçava para tentar ficar ao lado mesmo às vezes com as crianças pequenas. Eu tentava viajar e acompanhar para eu pegar um conhecimento da vida pública. Fiz tudo já pensando em um dia me lançar candidata. Mas não esperava que seria agora em 2014. Achava que meu pai ainda ia ter mais quatro anos de mandato como deputado, inclusive.

Única – Então seus planos se anteciparam um pouco?

Janaina Riva – Quando meu pai começou a falar que não tinha mais vontade de ser candidato a deputado estadual eu estava até gestante do José. Falei para ele que eu ia esperar o neném nascer, para ver se teria condições de fazer isso. Mas tudo acabou me levando para esse caminho, tudo aconteceu tão rápido, quando vi o José já estava com seis meses, eu já conseguia viajar um pouquinho mais. Não foi algo tão doloroso para minha família. Nunca tive medo de uma disputa e do peso que é durante uma campanha eleitoral. O quanto é sacrificante para você no âmbito da sua vida pessoal. Nunca tive medo porque eu já conhecia, já sabia como seria. Tudo que eu pensei que pudesse acontecer aconteceu conforme esperava durante as eleições, e acabou que minha candidatura foi ficando cada vez mais sólida.

Única – Como foi suceder a um homem com a trajetória política como o seu pai?

Como filha, me senti feliz de ver meu pai mostrando um pouco de quem ele é de verdade, coisas que eu vejo todos os dias e as pessoas não sabem”

Janaina Riva – Nossa, um desafio! Mas tive a oportunidade de mostrar minha identidade para as pessoas, porque elas tinham uma dúvida muito grande de que eu seria capaz de conduzir um grupo. Um grupo tão antigo de quase 20 anos. Acho que lá da Assembleia deve ser um dos mais experientes. Além do mais, meu pai é muito conservador, as pessoas que estão com ele desde o começo são praticamente as mesmas. Até eu tinha esse medo, essa dúvida de que essas pessoas me acompanhariam, até pela novidade, porque tenho novos pensamentos, sou uma nova pessoa. Apesar de ter uma experiência e um acompanhamento de tudo que meu pai fez, eu venho também com algumas novidades. Felizmente, eu vi que eles se adaptaram muito bem. Acabou que tivemos um relacionamento tão bom no decorrer da campanha que nem eu imaginava.

Única – A maioria das mulheres não deixa sua casa e família para disputar uma eleição, como foi para você fazer isso?

Janaina Riva – Sempre falo essa questão que temos hoje só uma mulher na Assembleia, isso não é em vão. Algum fundamento, algum sentido deve ter. Eu acho que esse sentido realmente são essas questões que dificultam as mulheres a fazer uma campanha da mesma forma que os homens fazem. Eu sentia muita falta dos meus filhos, e um peso na consciência de que se aquilo que eu estava fazendo era certo. Porque você perde alguns momentos principalmente quando seu filho é pequeninho. E essa era minha dúvida, eu falava: ‘Poxa, agora que estou na flor da idade e que eu tenho força para fazer isso, ao mesmo tempo eu tenho uma criança que não tinha nem um ano de idade dentro de casa e que não vi engatinhar, nem comer a primeira papinha porque fez tudo isso no decorrer da campanha’. Então, eu não consegui acompanhar e eu sentia um peso na consciência. Só que ao mesmo tempo eu pensava que aquilo que estava fazendo também seria motivo de orgulho para os meus filhos, assim como foi com meu pai. Toda vez eu pensava: ‘Nossa, nunca vou fazer o que meu pai fez com a gente, não participar da festa de aniversário, de comemorações da família, todo mundo com o pai presente menos o meu’. Só que quando eu cresci passei a valorizar tudo isso que ele fez. E eu vi que era muito doloroso para ele com certeza e foi muito mais doloroso para mim como mãe do que para os meus filhos. Só que você só entende depois e eu espero que um dia eles entendam também.

Única – Estar na política, para você, é uma questão de vocação?

Janaina Riva – Estou aqui por amor. Além disso, ela é muito sedutora, quando você começa a participar do cotidiano da vida pública é fantástico. Tem muita gente que às vezes só analisa os contras, os comentários negativos. Há pessoas que falam: ‘Nossa, como você tem coragem para uma vida dessa, você vai expor sua família’. Mas ela só olha os contras, não vê os prós. E os prós você só consegue ver quando está envolvida. Às vezes, quando a pessoa começa a acompanhar, como eu acompanhei por muitos anos, você acaba se apaixonando. Aqui em casa não tem nenhum de nós que não gosta de política, nenhum dos meus irmãos. Eles não têm aptidão para uma disputa política, mas gostam de conversar sobre isso, têm respeito pelas pessoas que participam porque sabem o quanto é diferente a realidade do que a mídia expõe, do que a gente vivencia realmente.

Única – Você realmente demonstra muita devoção pelo seu pai!

Janaina Riva – Antes eu criticava muito, mas depois passei a admirá-lo, toda vez que eu via uma pessoa agradecer ao meu pai era um momento único. Observar que ele transformou uma única vida era algo fantástico. Quantas unidades da Unemat (Universidade Estadual de Mato Grosso) ele conseguiu instalar a partir da força política dele dentro da Assembleia. E o quanto isso mudou a vida de milhares de jovens mato-grossenses que nunca teriam oportunidade às vezes de ter curso superior ou de disputar uma vaga numa UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), por exemplo. Então, tem muita coisa que você consegue fazer e isso ninguém consegue tirar da sua biografia, vai acompanhá-lo para sempre. ‘Ah, mas se adquirem muitos inimigos’, dizem. Sim, e é natural no processo político que isso aconteça, que tenham também pessoas que não gostem de nós. Mas o que eu acho mais interessante é que hoje, em qualquer município do Estado em que eu chegar, eu tenho alguém para me receber, que vai me dar almoço e uma casa para eu dormir, e são essas coisas que você conquista que não vai perder nunca mais.

Única – Desde que idade costumava participar da vida política dele?

Janaina Riva – Gostar eu sempre gostei de política, desde pequena, mas o despertar veio com a adolescência e início da vida adulta, com a maternidade isso aflorou completamente. Vivenciar com ele a gratidão que as pessoas têm por ele, os sacrifícios que ele sempre fez em nome dos outros, é isso que faz você se apaixonar realmente. Você não pensa só em você, porque se eu pensasse só em mim tenho certeza que não estaria na vida pública e não teria disputado essa eleição. Até porque tive que sair do comodismo e da tranquilidade em que eu vivia. Porque dizer que a política é um trabalho como os outros, talvez como alguns, como um cardiologista, por exemplo, que não tem horário, que a hora que a pessoa liga é a hora que precisa, mas a vida política para a nossa família é dedicação exclusiva. Por isso, seria muito mais cômodo eu ter minha vida de empresária igual eu sempre fiz, eu saía 8 horas de casa, voltava no fim da tarde, aquele comodismo que eu vivia era melhor inclusive para os meus filhos. Mas meu pai me despertou meu outro lado, meu lado humanitário. Quando eu colocava minhas dúvidas para ele, ele me dizia que seria muito egoísta se eu não fizesse o que preciso, se não seguisse a minha vocação, não por mim, mas principalmente por todas as pessoas que sempre acreditaram nele e que ele achava que não podia deixar desamparadas.

Única – Como você está lidando com a sucessão, há muita cobrança?

Janaina Riva – Vejo sim como uma grande responsabilidade essa sucessão. É natural que as pessoas coloquem em mim muitas das características que meu pai sempre teve, dentre elas essa presença dele que sempre foi muito marcante. E eu sempre disse em vários discursos que isso é uma coisa que consigo fazer. Agora eu não acredito que existe alguém que seja igual ao outro. Eu sempre dizia ao meu pai que eu acho a pessoa dele incomparável. Temos nossas diferenças, aprendi muita coisa boa com ele, ele continua me ensinando. Nós sempre tivemos uma boa relação, pautada no diálogo. Talvez mais que isso, em alguns momentos eu também fui conselheira dele. Quantas vezes havia alguma coisa na Assembleia que gerava muita polêmica e às vezes a gente conversava sobre isso durante o café da manhã e ele tomava uma decisão aqui dentro de casa, junto com a gente. Então, acho que a falta que o meu pai vai fazer não sei se vou conseguir suprir, porque ele não é só um deputado, mas muita coisa eu quero me espelhar nele, entre elas, essa questão do municipalismo que sou apaixonada, que ele me ensinou a ter paixão. E é essa coisa de não só fazer política por voto, política por política, de fazer realmente uma política humanitária, de olhar para os menores que são os que mais precisam, mas que talvez não te rendam tantos votos.

Única – Mas você acha que conseguirá se ‘impor’ com suas novas ideias em um ambiente tão conservador?

Janaina Riva – Essa é outra grande responsabilidade que eu tenho durante esse processo de sucessão, conseguir colocar todos os meus posicionamentos e minhas posições dentro da Casa sem romper totalmente com a tradição. Eu e o meu pai divergimos em alguns pontos sim, mas muitas vezes essas divergências foram lucrativas para mim e para ele. E eu vejo que as pessoas já passaram a ter essa consideração, esse respeito pela minha opinião. Então essa responsabilidade ao mesmo tempo é a oportunidade que vou ter também de marcar minha presença, de marcar meu estilo de ser, de como vou conduzir meu trabalho. E eu não tenho medo nenhum, nem receio do desafio. Na verdade vejo a situação como positiva, até porque não é todo deputado que tem um pai deputado por 20 anos e que já foi presidente de um colegiado por 12 anos acompanhando sua trajetória.

Única – E por falar em José Geraldo Riva, as pessoas de modo geral não imaginavam que ele realmente estivesse fora do cenário político…

Janaina Riva – Ele realmente está cansado, precisa de um tempo para estar com a família, os netos, para usufruir de tudo que tem enquanto ser humano. Nós estamos apoiando muito a decisão dele. Mas se por um lado meu pai precisa viver esta nova fase, por outro lado, sempre soube que as pessoas não vão parar de procurá-lo, porque não veem nele apenas um deputado, veem nele um amigo que sempre atende quando precisam. Então para ele precisava ter um sucessor lá dentro e ter alguém que fosse dar esse amparo para essas pessoas é muito importante. Como eu sempre tive essa vocação, a sucessão aconteceu.

Única – Você está acompanhando as articulações para a eleição da Mesa Diretora da Casa de Leis? É diferente do que imaginava?

Janaina Riva – Eu já havia acompanhado no decorrer da campanha, junto com o João Emanuel, mas foi totalmente diferente do que estou vivendo agora na Assembleia. Então você vê que não é tão simples quanto parece ser por fora. Para ser líder de um colegiado, precisa ser um grande interlocutor, para conseguir exercer liderança por 24 líderes. Veja o quanto isso é difícil, porque são 24 pessoas que ao mesmo tempo que são seus ‘pares’, e por isso estão em condições iguais as suas, também são diferentes, pensam e agem de maneira diferente. Estar no papel do meu pai sempre foi muito difícil, hoje tenho total certeza disso!

Única – Inexperiente, mulher, você já tem colocado as suas opiniões? Tem participado das reuniões com os demais deputados? O que acha da composição da Mesa?

Janaina Riva – Nossa, eu gosto de participar, gosto de ouvir muito e dar minha opinião junto com eles. Sempre coloco nos meus posicionamentos que a Assembleia merece não uma Mesa de oposição, merece no mínimo uma Mesa independente com relação ao governo. E isso não impede que seja uma Mesa mista. Seria muito melhor se fosse uma Mesa mista. Vejo que a grande maioria pensa assim, porque é muito importante ter contrapontos, porque as pessoas sentiram falta disso nos últimos anos porque a Assembleia foi muito situacionista, já que a grande maioria dos eleitos sempre era do governo e, dessa forma, a proposta é que a partir do ano que vem seja diferente. Diante de tantas manifestações e pedidos de mudanças da população, penso que a instituição precisa se reciclar, como aconteceu com o governo do Estado. A eleição do governador Pedro Taques foi uma mudança que as pessoas exigiram, elas querem renovação. Penso que é importante a Assembleia acompanhar esse ritmo de mudança e não repetir as coisas do passado, não que seja errado, foram momentos que a gente não questiona mais, porém não devemos repetir esse padrão de submissão. Ter mais liberdade com relação ao governo vai ser muito importante, até para defender realmente os interesses do povo.

Única – Você tem alguma expectativa de participar da composição dessa Mesa?

Janaina Riva – Não, desde o início eu deixei bem claro que eu não tinha interesse, e que não era só um discurso, antes eu preciso adquirir experiência ali dentro. O presidente precisa conhecer o regimento como ele conhece a casa dele. Até porque a Assembleia hoje exerce um poder muito forte, o governo do Estado está totalmente vinculado às decisões dela. Então eu acredito e digo isso sempre a eles que seria importante, além da renovação da Casa, ter pessoas à frente da direção que tenham essa experiência de saber conduzir os trabalhos. Já temos um governador novo, acho que precisamos de gente na Assembleia que no mínimo conheça o regimento interno, o trabalho do presidente com seus pares, porque é difícil no decorrer dos dois anos de mandato que o presidente consiga um clima de harmonia, até para não expor a Assembleia. Essa foi a preocupação que eu tive quando eu disse que não queria fazer parte da Mesa, não queria acirrar as divergências que o governador eleito sempre teve com meu pai, eu tive esse zelo com a Assembleia de não participar para não causar esse tumulto, ou a exposição da Casa com a minha falta de experiência, não gostaria de cometer algum ato que prejudicasse nosso Estado. Acho que todos os deputados eleitos deveriam pensar da mesma forma, no que poderia representar fazermos uma Mesa de novatos e a perda que isso poderia causar para a instituição, além de ser também uma Mesa de situação ao governo, uma Mesa que aceita tudo.

Única – É preferível, neste momento, manter a independência no âmbito parlamentar?

Janaina Riva – Eu quero contribuir da forma que estou fazendo, dando minhas opiniões nas reuniões, tenho contribuído sempre com eles, assim como tem outros deputados que não têm interesse nenhum em fazer parte da Mesa Diretora porque essa liberdade de poder falar o que quiser, ter a sua posição, não tem preço, e na Mesa você acaba ficando um pouco vinculado, porque representa ali os 24, não fala só por você. O presidente da Assembleia, quando emite uma opinião, está falando pela instituição.

Única – O machismo é muito presente na política? Como avaliou isso durante as eleições?

Janaina Riva – Sim, o machismo existe entre os eleitores, e ele é muito mais forte nas mulheres do que nos homens. Era mais comum mulheres que diziam que não votam em mulheres. Penso que esse trabalho de conscientização política deve partir de nós junto às nossas famílias. Aprendi muito durante a campanha, uma coisa importante que senti na pele ao me candidatar e enfrentar uma eleição: nós, mulheres, somos muito mais sensíveis, nós não concordamos com as baixarias e os desgastes que existem nesse período, sofremos mais e nos preocupamos mais com os ataques à nossa honra do que os homens. E isso explica o porquê de muitas mulheres não se sujeitarem à vida pública.

Única – Diante de tantas limitações para a participação feminina na vida política, como é sua relação com o seu marido?

Janaina Riva – O João me apoia muito. Quando nós nos conhecemos eu já tinha essa vontade de sair à deputada estadual e ele já sabia que eu seria a sucessora do meu pai. Isso não é de agora, eu tinha essa vontade desde que fiz 18 anos. Quando nós nos casamos ele já sabia que seria assim, que uma hora ou outra eu ia me dedicar à vida pública, assim como quando foi com ele, eu o apoiei da mesma forma. E quando não deu certo ele acabou sendo cassado, aí nós juntos tomamos a decisão de que ele seria também o homem da casa, que me ajudaria a cuidar dos filhos, por outro lado, ele sabia que dois anos depois eu seria candidata. E isso deu muito certo, graças a Deus, porque eu fico imaginando o que seria da minha casa se não tivesse nem eu e nem o João presente, os dois vivendo esse clima de campanha política, de eleição, e acabou que o João foi meu esteio dentro de casa. Foi ao contrário do que acontece na maioria das vezes, que a mulher é o esteio. Ele cuidou das crianças, porque minha mãe também estava em campanha, meu pai em campanha, meus irmãos ajudando e ele era a única pessoa que eu tinha, que eu confiava completamente para cuidar das crianças. Ele me incentivou muito, ficou muito orgulhoso com a minha eleição, trabalhou aqui também em Cuiabá com algumas pessoas que ele ainda tinha vínculo e que ainda o seguiam. E eu tive uma votação muito expressiva aqui em Cuiabá e acho que muito foi dessa ajuda dele. Eu estava no interior e o João estava nos bastidores aqui em Cuiabá.

Fonte: Revista Única.

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